sexta-feira, 29 de maio de 2015

Rally de Portugal 2015+Conquista do Marão

À imenso tempo que imaginava conseguir ir de casa à Senhora da Serra do Marão. Já lá tinha de roda fina que por si só é uma aventura enorme pela degradação total dos 12klm's finais da subida mas ir em modo btt era algo que desejava!
Cortar os montes a direito, usar umas estradas e chegar ao topo totalmente espezinhado pela dureza do feito. Faltava o dia, a hora e coragem pois o track estava elaborado e guardado à espera de vontade para a prática! A companhia... Essa foi escasseando à medida que fui partilhando a ideia com os amigos. Através do Instagram falei com o Pedro Pereira que anunciava que iria ver o Rally de Portugal à Serra do Marão! Tava ali um duro que de certeza não viraria as costas a um desafio destes... E não virou, rapidamente chegamos a acordo quando à estupidez da coisa e foi só marcar hora e ponto de encontro. O Hugo também se mostrou disponível, basicamente durante a semana vai esquecendo as dores de pernas e apartir de 5ª feira começa a pensar no próximo empeno por isso é fácil de o convencer :)
Lembrei-me do Zé, o gajo que nunca vira as costas a nada e com os seus 52anos vai mantendo as suas aventuras sempre ao mais alto nível. Pensei que seria muito duro para ele mas se há coisa que ele tem é sabedoria e se visse que o terreno ia azedar ele daria a volta e desenrascava-se à sua maneira! Liguei-lhe: "Zé sábado vou ao Marão de btt, saio de casa, queres ir?" Ele: "Onde é que tenho de ir ter e a que horas?"..... Não desilude este senhor!

Fui contra a minha preguiça e às 6h da manhã já encaixava os pés na bicicleta para me juntar ao resto do pessoal. Ia apanhar o Hugo em Vizela, o Zé e o Pedro em Felgueiras e daí seguíamos juntos! Numa padaria encontramo-nos e tomamos o pequeno almoço enquanto se fazia o plano para o que aí vinha. Tinha planeado seguir até Arnoia sempre por estrada e daí para a frente entrar no desconhecido. Num rápido já tínhamos 40klm's feitos e muito terreno cortado! O interessante seria agora com com a descida do Castelo até à ponte de arame que liga Lourido a Rebordelo.
Ao primeiro o caminho parecia meio tapado mas conseguimos descortinar onde estava e demos com os restos da ponte! Sim, os restos da ponte... O estado dela é muito mau, faltam muitas travessas logo no inicio e a madeira parecia realmente podre! Decidimos não arriscar e demos a volta. Fiquei desapontado pois o terreno agora ia dar-nos que fazer durante uns bons klm's de caminhos florestais! À chegada à ciclovia reunimos para tentar perceber qual seria a melhor opção para nos safar-mos e conseguirmos ir ter a Campanhó ou lá perto. Para ultrapassar o rio teríamos de ir para Mondim por estrada, ou descer até Amarante e depois ir por Fridão mas devido ao rally não ia ser fácil arranjar um caminho por onde se pudesse prosseguir até perto de Tijão para ultrapassar mais uma ponte de arame. Todos já conhecíamos Fridão, e a ponte de arame de Tijão e sendo assim optamos pela solução que nos faria poupar tempo já que o resto era conhecido. A bom ritmo pusemo-nos em Mondim e à saída da vila paramos no supermercado do costume para abastecer!
O Zé mantinha-se em altas tal como nós todos... Apesar do contratempo estava a gostar do andamento. Gosto de malta que se esforce e apesar do empeno previsto vão dando o que têm na execução do plano. Abastecidos seguimos por estrada para passar o Rio Olo e logo de seguida começar a subida para Campanhó. A estrada é fantástica e apesar dos primeiros klm's serem mais empinados o que se segue recompensa bem o corpo e as vistas! Pelo meio paramos para abastecer os bidões, foi aí que vi o Pedro a tomar o doping. Na mochila dele trazia vários sacos com pó das mais variadas cores e feitios! Só lhe faltava o pó de talco para as longas jornadas :)

Campanhó apareceu num ápice e fizemo-nos à terra poeirenta ao mesmo tempo que muitas motas e jipes. Já cheirava a rally! Tínhamos mais 2klm's pela frente bem duros até ver os carros passar junto a Covelo do Monte. O xisto é um piso espetacular e requer técnica aliada à força para ir ultrapassando metro a metro. Cada bocado é diferente e o calor que o mesmo transmite faz com que sintamos sempre a boca seca e o nariz a arder do ar quente que se faz sentir. Talvez por isso prefira sempre o Marão/Alvão à terra batida do Geres! Estranhamente o Pedro tinha ficado para trás, a pressão dos pneus não estava a ajudar e o cansaço de uma noite mal dormida começava a dar conta dele. No final da subida juntou-se a nós enquanto víamos os carros passar e foi contando o que lhe ia na alma! 
Ficamos por lá meia hora pelo menos mas depois continuamos até chegar à N15, não sem antes termos feito um assalto a umas arcas frigorificas que estavam sem dono por perto. Souberam mesmo bem assim fresquinhas :) O estradão ainda rendeu uns klm's bons mas quando terminou sentamo-nos na beira da estrada a lanchar. O Pedro estava com a ideia de atalhar caminho pois achava não estar nos seus dias e não queria penar o resto do caminho! Nós que não somos de deixar ninguém para trás insistimos com ele para seguir connosco mas ele não queria. Finalmente um gnr que por lá estava disse que não o deixava passar pela N15 em direcção a Amarante e isso foi o argumento final para que ele seguisse connosco! Eu queria ir ao topo da serra, foi esse o meu principal motivo para sair de casa tão cedo e o Hugo partilhou da mesma ideia... O Zé tanto ia como ficava e assim sendo, ele e o Pedro seguiram mais devagar em direcção ao topo enquanto eu e o Hugo dávamos o litro para ir lá cima marcar mais uma etapa nas nossas vidas ciclisticas! 
Ao chegar senti o objectivo cumprido. Um peso tirado de cima dos ombros, uma luta que estava ganha e um marco que iria ficar para sempre. Estava contente, estava feliz, estava recompensado pelo esforço... Enchi a alma naqueles minutos lá em cima! 
Breves minutos pois viemos ter com os nossos companheiros que já se encontravam à nossa espera uns klm's mais abaixo. Decidimos ir ver os carros, ficar à espera que eles chegassem, enquanto arranjava-mos maneira de sair do topo sem vir pelo sitio. Não foi fácil e acabamos por fazer a descida quase toda por onde tínhamos subido, isto depois de termos estado a sentir o ambiente dos carros a passar junto a nós! Às tantas viramos para um corta fogo e com muito cuidado conseguimos apanhar a estrada para Amarante sem impedimentos da Gnr. Paramos na Adega do João para tratar da saúde a umas cervejas e umas sandes de presunto. Exageros à parte, acho que estas deram mais que fazer do que parte da subida à serra :) 
O Pedro estava mais recomposto e agradecia por não o termos deixado atalhar. Soube-lhe muito melhor esta medalha do que andar com o amargo de ter deixado a etapa a meio!
Agora era sobreviver até casa, ainda assim coisas estranhas acontecem pois na subida de Amarante até à Lixa fiz o meu melhor tempo até à data. Imagino as carroças que passo lá normalmente com rodas mais finas :) Em Felgueiras deixamos o Zé e em Vizela deixamos o Hugo. Estávamos fartos de nos ver, tanto tempo a ser empenados pelos mesmos é duro!! O Pedro veio comigo até perto de minha casa seguindo o caminho mais plano até aos seus terrenos. A jornada para ele deu quase 250klm's! 
No fundo não somos campeões alguns, não somos melhores que ninguém, muito menos andamos mais que o fulano ou o manel da esquina... Mas lá que a gente curte à brava estes empenos, lá disso não duvidem!


No dia seguinte às 6h da manhã estava a sair de casa de novo para ir ver o rally a Fafe com o Hugo e o Zé claro... Rally em Fafe